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terça-feira, 23 de março de 2010

Yvelise escreve sobre a morte

Galera, como uma pessoa bem coerente, sei a hora que posso falar mal, que posso criticar, e sei respeitar os sentimentos das pessoas. Por isso, resolvi postar a crônica que Yvelise de Oliveira, presidente do Grupo Mk, escreveu, sobre a morte de seu filho e seu genro, acontecido há poucos dias. Podemos apontar ela com inúmeros defeitos, mas acima de tudo, respeito os sentimentos dela como ser humano, principalmente num momento como este. Leiam:

A morte entrou pela porta e sentou na minha sala

Dona Morte entrou pela porta da minha casa e se instalou confortavelmente em algum dos meus sofás.
"Essa senhora sinistra" começou com o meu jardim.
A casa foi feita para o jardim. Toda cercada de flores coloridas, as singelas "Marias sem vergonha" abraçavam tudo como em um buquê. Por dentro da casa e pelo lado de fora junto dos muros o colorido das flores, na rua, aconchegavam a frondosa amendoeira em um abraço carinhoso em frente à casa.
Mas as plantas foram morrendo sem motivo e o jardim todo florido foi ficando sem vida e sem cor...
Se foi o sol, o calor, muita água, o jardineiro mesmo não sabia dizer... Mas lutei. Comprei terra adubada e centenas de mudas de "Maria sem vergonha", lilases, grama inglesa. Enfim, plantei tudo de novo, mas o jardim nunca mais foi o mesmo. Minhas orquídeas morreram aos montes no orquidário branco que fiz para cuidá-las. Amo plantas.
Indo mais fundo, Dona Morte matou minha gata Sara. A porta foi esquecida aberta e ela pulou para a casa da vizinha ? morreu na hora. Os cachorros quebraram seu frágil pescocinho.
Lamentei por dias sua morte e chorei sentida a sua falta.
Mas a gente não sabe o futuro e esperei sempre que tudo fosse melhorar.
Sem doença, sem nada, a mãe do meu marido, D. Margarida, morreu. Uma morte serena. Dormiu e não acordou. Sua jornada tinha acabado.
Foi uma tristeza grande. O consolo ficou apenas na suavidade com que Dona Morte agiu.
Assim que a gente começa a respirar mais aliviado, o consolo vem vindo, porque minha sogra viveu 91 anos, jovial e saudável.
Nesse ano que passou nós a vencemos quando meu marido teve um câncer e pensei que iria perdê-lo. Mas a mesma fé que o curou completamente não consegui tirar o medo que veio morar dentro de mim.
Logo eu, tão segura, tão confiante, tão cheia de planos, passei a temer o confronto com ela: a "Sinistra Senhora".
Depois passei a desconsiderá-la: "Não. Já perdi gente demais, um filho pequeno , minha mãe, meu pai, minha amiga querida. Perdas que fazem parte da vida quando se é jovem."
Mas Dona Morte instalou-se. Minha casa grande, branca e bela tornou-se sua morada predileta.
Em um sábado de céu azul e o sol brilhando, um dia tipicamente carioca, a família se reuniu para almoçar. Na mesa, sorriso e comida farta, muito papo jogado fora.
Benoni, meu filho, tinha agora um novo hobby: voar de ultraleve, um avião monomotor.
Todos já tinham voado com ele: meus netos, sua esposa, meu marido e as centenas de amigos que ele, com seu jeito de menino grande e coração doce, conquistava.
Nesse sábado, ele me convidou animado: "Vamos, mãe, vamos voar, é lindo. A gente se sente um pássaro". Emocionava a forma como ele descrevia o vôo, uma aventura única, um prazer indescritível. Ver o Rio assim, de cima, sua cidade que ele tanto amava.
Vou enjoar, respondi, acabei de almoçar. Vou amanhã, eu prometo.
Meu genro, um jovem homem amável e tranquilo, nada dado a aventuras perigosas disse: "Eu vou. Vou fotografar todo o Rio, o Cristo. O dia está claro como cristal".
Meu genro era um grande fotógrafo, tinha uma visão artística peculiar de luz e sombra.
Assim os dois saíram rindo felizes. O Sérgio, meu genro, com sua máquina super Nikon pendendo do pescoço. Alto, magro e sorridente como seu cunhado. Eram muito diferentes, mas tinham em comum a camaradagem.
Nesse dia claro e cheio de sol, Dona Morte resolveu dar um golpe fatal.
Enquanto o dia ia findando e o sol tornava o céu rosa em tons de púrpura e lilás, meu filho foi aterrizar seu avião, pequeno, leve como um brinquedo mortal.
O vento, sim, o vento que ele tanto amava virou o avião. Caíram na lagoa e morreram os dois na mesma hora.
Tantos planos, tantos sonhos, tanta juventude assim cortada, desperdiçada.
Morto meu filho, os bombeiros o tiraram da lagoa, o coloquei no meu colo. Pareceu dormir. Tão lindo.
Um garrote me apertou a alma. Uma dor assim não se limita, não se escreve, não se consegue sabotar.
Perplexa, vi que era verdade... Meu filho amado, meu filho morto, em meus braços eu embalei.
A dor é muito particular, íntima e, para mim, incurável. Não vou superar, já estou velha, cansada. Vou apenas suportar enquanto der, lutando para preservar a minha fé, manter o meu coração em Cristo, desejando que Deus permita que meu tempo aqui na Terra não seja tão longo.
Como não pude te dizer, meu Deus: Ainda não, ainda não. E rogar: Por favor, não o deixe ir agora. Não me lance nessa noite tenebrosa.

Yvelise de Oliveira
15/02/2010



10 comentários:

  1. Ainnn
    Texto feito no dia do meu níver...
    Triste e Emocionante...

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  2. Como já dissera, triste e emocionante.

    Será que a Yvelise de Oliveira já escreveu ou já pensou em escrever algum livro? Extremamente bem escrito e envolvente. Parabéns à equipe do DQD por ter publicado.

    twitter.com/W_Mata

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  3. O livro Janelas da Memória, é de autoria dela.

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  4. Só o Senhor sabe realmente a dor q ela esta sentindo neste momento, ainda não tenho filhos mas posso imaginar a dor de uma mãe q o perde, assim como ela perdeu o seu , como a Ana Carolina perdeu sua Isabela e outras mães perderam o q tinham de mais precioso. A msg realmente é tocante. Muita emoção

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  5. A gnt tem a mania de falar mal da Yvelise e de suas manobras a frente da MK, e com isso deixamos de lembrar de sua humanidade.
    Eu chorei com o texto, chorei com o fato... A crônica é linda, bem escrita, tocante, mas é triste ver a forma como ela encara a vida agora.

    Vi a dama de ferro da MK, a Odete Roitman gospel como uma simples senhora, enfrentando uma indescritível dor... Aumentou o meu respeito com ela.

    Força, Yvelise! Vc ainda tem muitos a demitir nessa terra!

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  6. Quem é mãe sonha em nunca viver algo assim.
    Enterrar um filho é com certeza a coisa mais desesperadora na vida. Foge do natural!

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